Memórias, sonhos e reflexões de um quarto de hotel

Por ambientação um sobrado de 1914 na Rua da Glória, antes casa de família, antes pensão, antes refúgio, quase ruína, hoje hotel. Por protagonista e voz o quarto 201. Por palavras suas as que já ecoaram nos seus mais de 90 anos imobilidade, e as frases que aderiram aos tijolos.

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vicsaramago@gmail.com / saramago@stanford.edu

Tuesday, April 15, 2008

Coisas grandes

Como o movimento por aqui está muito pouco e quase nada tenho tido a fazer, ando desencavando uns ditos que me ficaram reverberando suavemente por décadas e décadas. Outro dia, por exemplo, lembrei duma grande frase:

“Um grande homem sem religião não é nada mais que uma grande fera sem alma.”*

Se fosse humano até que me dava uma vontade de arranjar religião, só para bater palmas incondicionais.

Sendo quarto, no entanto, só me resta emendar assim:

“Um grande homem sem religião não é nada mais que um grande quarto de hotel sem hóspedes.”

E aqui eu só posso ficar feliz de pertencer a um casarão do início do século, e de serem os casarões do início do século tão largos e espaçosos. Ao menos na generosidade dos meus metros quadrados, não fico devendo nada nem ao homem nem à fera.

* Daniel Defoe

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