Um ano não faz mal, um par de séculos tampouco
Estive algum tempo ausente, é verdade. Mais de um ano, para ser bem exato. De 16 de fevereiro a 8 de abril bem que me pareceria um bom tempo, e a todos nós, que vivemos em escala humana. Mas eu, ora bolas, eu não sou humano. Em que pese ser eu produto dos homens, e ainda pelas mesmas mãos dos mesmos homens hei de ruir – vocês ainda verão – mas diga-se tudo isso; eu permaneço cimento. Cimento dura mais que peles e ossos, graças a Deus e aos tijolos que nos sustentam. Por isso, um ano para quem já faz quase um século é coisa pouca, e para mim não durou mais do que o vazio de um meio de semana sem hóspedes.
Ah, os humanos. São engraçados. Estive pensando neles nos últimos tempos – como se tivesse ralmente algo mais em que pensar. Os humanos dão caras a tudo: um ano a eles, uma década que seja – e vamos medir aqui em décadas –, tudo nas suas características peculiares, como se humanos fossem os anos que passam. Como se as décadas se fantasiassem com o mesmo apuro dos nossos carnavalescos.
Andei pensando nisso, com efeito. Andei pensando se ainda resisto a mais um século, se ainda vejo os próximos anos 20, 30, 50, 80 e por aí vai. Se serão as décadas do século XXI exatamente as mesmas com que teimamos em rotular as do XX. Porque seria gozado se os próximos anos 40, sem guerras e nazismos, fossem de uma paz e uma tolerância aterradoras. Ou que os 60, sem os desbundes e protestos que andaram chegando por aqui, conhecessem, ao contrário, os jovens mais fresquinhos e conservadores de que se teve notícia. Ou que os 90 e 00 que por aí virão não tivessem nada de nada de tecnologias e internets e celulares, que a informação não se transmitisse de jeito nenhum, e qualquer hi-tech soasse tão paradoxal quanto a escravidão na democracia grega. Porque essas coisas acontecem.
Como se lêssemos um livro de história ao contrário, assim talvez o leiam as crianças do século XXII. Se é que haverá necessidade de ler alguma coisa, se é que já não teremos laptops instalados no cérebro.
E nisso passam-se os anos. Logo chegaremos ao fim da década de 2010, e em lugar da Revolução Socialista, que haverá? A Belle Époque, se é que já veio, eu ao menos não senti. É bom já ir pensando nessas questões: não falta muito a que o século próximo as engula. Já eu, se eu me mantenho de pé até lá, ainda acharei divertido de comparar. Dois séculos de vida para um quarto não vão nada mal: é o suficiente para demolir qualquer certeza.
Mas não reparem, é tudo coisa de quem tem tempo demais e miolos de menos. É coisa de quem vê passar diariamente por si os seres humanos mais variados em seus caprichos mais íntimos, carnavalescos como passam os meses e os anos nos nossos calendários.
Ao menos, viva o quanto viver, veja o que há de supreendente para ser visto, ao menos uma certeza me resta, e quero ser um mico de circo se não será verdade: que os anos 80 jamais saberão se vestir com bom gosto.
Ah, os humanos. São engraçados. Estive pensando neles nos últimos tempos – como se tivesse ralmente algo mais em que pensar. Os humanos dão caras a tudo: um ano a eles, uma década que seja – e vamos medir aqui em décadas –, tudo nas suas características peculiares, como se humanos fossem os anos que passam. Como se as décadas se fantasiassem com o mesmo apuro dos nossos carnavalescos.
Andei pensando nisso, com efeito. Andei pensando se ainda resisto a mais um século, se ainda vejo os próximos anos 20, 30, 50, 80 e por aí vai. Se serão as décadas do século XXI exatamente as mesmas com que teimamos em rotular as do XX. Porque seria gozado se os próximos anos 40, sem guerras e nazismos, fossem de uma paz e uma tolerância aterradoras. Ou que os 60, sem os desbundes e protestos que andaram chegando por aqui, conhecessem, ao contrário, os jovens mais fresquinhos e conservadores de que se teve notícia. Ou que os 90 e 00 que por aí virão não tivessem nada de nada de tecnologias e internets e celulares, que a informação não se transmitisse de jeito nenhum, e qualquer hi-tech soasse tão paradoxal quanto a escravidão na democracia grega. Porque essas coisas acontecem.
Como se lêssemos um livro de história ao contrário, assim talvez o leiam as crianças do século XXII. Se é que haverá necessidade de ler alguma coisa, se é que já não teremos laptops instalados no cérebro.
E nisso passam-se os anos. Logo chegaremos ao fim da década de 2010, e em lugar da Revolução Socialista, que haverá? A Belle Époque, se é que já veio, eu ao menos não senti. É bom já ir pensando nessas questões: não falta muito a que o século próximo as engula. Já eu, se eu me mantenho de pé até lá, ainda acharei divertido de comparar. Dois séculos de vida para um quarto não vão nada mal: é o suficiente para demolir qualquer certeza.
Mas não reparem, é tudo coisa de quem tem tempo demais e miolos de menos. É coisa de quem vê passar diariamente por si os seres humanos mais variados em seus caprichos mais íntimos, carnavalescos como passam os meses e os anos nos nossos calendários.
Ao menos, viva o quanto viver, veja o que há de supreendente para ser visto, ao menos uma certeza me resta, e quero ser um mico de circo se não será verdade: que os anos 80 jamais saberão se vestir com bom gosto.
1 Comments:
Fiquei até com medo qdo li: "ainda pelas mesmas mãos dos mesmos homens hei de ruir – vocês ainda verão",,,, já imagino o cataclismo q vc deva estar preparando!!! rtsrsrs
adooooorooooo!
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