Quando meu cimento espanta e conforta
FÁBULA DE UM ARQUITETO
A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
2
Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.
João Cabral de Melo Neto - A educação pela pedra
A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.
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Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.
João Cabral de Melo Neto - A educação pela pedra
1 Comments:
Vic, querida!
Realmente, só se for de modo literário.
Mas, às vezes, mesmo assim, me pego em dúvidas: não sei se algo que se possa dizer sobre obras de arte tem algum sentido.
É uma dúvida grande: para que serve, enfim?
E, caramba, estava lendo o poema como fosse seu! E pensei "cara, dominou João Cabral"!!! Não lembrava desse poema. Fantástico!
Beijão.
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