Memórias, sonhos e reflexões de um quarto de hotel

Por ambientação um sobrado de 1914 na Rua da Glória, antes casa de família, antes pensão, antes refúgio, quase ruína, hoje hotel. Por protagonista e voz o quarto 201. Por palavras suas as que já ecoaram nos seus mais de 90 anos imobilidade, e as frases que aderiram aos tijolos.

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vicsaramago@gmail.com / saramago@stanford.edu

Friday, September 15, 2006

Quando meu cimento espanta e conforta

FÁBULA DE UM ARQUITETO

A arquitetura como construir portas,
de abrir; ou como construir o aberto;
construir, não como ilhar e prender,
nem construir como fechar secretos;
construir portas abertas, em portas;
casas exclusivamente portas e teto.
O arquiteto: o que abre para o homem
(tudo se sanearia desde casas abertas)
portas por-onde, jamais portas-contra;
por onde, livres: ar luz razão certa.

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Até que, tantos livres o amedrontando,
renegou dar a viver no claro e aberto.
Onde vãos de abrir, ele foi amurando
opacos de fechar; onde vidro, concreto;
até refechar o homem: na capela útero,
com confortos de matriz, outra vez feto.


João Cabral de Melo Neto - A educação pela pedra

1 Comments:

Blogger Thiago Ponce de Moraes said...

Vic, querida!
Realmente, só se for de modo literário.
Mas, às vezes, mesmo assim, me pego em dúvidas: não sei se algo que se possa dizer sobre obras de arte tem algum sentido.
É uma dúvida grande: para que serve, enfim?


E, caramba, estava lendo o poema como fosse seu! E pensei "cara, dominou João Cabral"!!! Não lembrava desse poema. Fantástico!

Beijão.

9/21/2006 6:35 PM  

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